quarta-feira, 13 de maio de 2009

Pelo terceiro ano consecutivo, o Teatro do Campo Alegre no Porto recebe nas quartas-feiras de Maio um ciclo de cinema s/ Direito e Justiça.

Uma iniciativa da Associação Jurídica do Porto e da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, em colaboração com a Medeia Filmes, e com o apoio da Cinemateca Portuguesa e o Consulado de França no Porto.

No final de cada sessão abre-se espaço ao debate com a participação de convidados de várias áreas.

Hoje, dia 13, será exibido, às 21h30, O CAIMÃO, de Nanni Moretti.

Após a sessão, o debate será moderado por Laura Rios (Procuradora do Ministério Público) e contará com a presença de João Teixeira Lopes (Sociólogo), Guilherme Figueiredo (Advogado e Presidente do Conselho Distrital do Porto da Ordem dos Advogados), José Mouraz Lopes (Juiz de Direito, Director da Revista Julgar, ex-Director de Combate ao Crime Económico da PJ).

"O CAIMÃO: (o nome vem do nome de um réptil sul-americano) é, sobretudo, a história de um produtor de série Z que se vê metido na produção de um filme sobre Berlusconi, por desespero de causa (o homem está à beira da falência empresarial, familiar e sentimental). Ao princípio, ele nem se dá conta plena do tema do argumento que uma jovem realizadora lhe faz chegar [...] Mas aquilo aparece-lhe como tábua de salvação, a única forma de conseguir reconquistar algum amor-próprio, um último recurso antes do aniquilamento. Nos últimos anos só conseguiu produzir emissões de televendas pela noite dentro, o banco não lhe avança nem mais um cêntimo, a mulher quer divorciar-se, tudo se desmorona. O protagonista do filme é, assim, um estado de coisas laboral e moral (que talvez se deva ler como metáfora de Itália, sem esquecer que se ancora numa realidade precisa) e um homem que quer salvar-se.

Grande parte de O CAIMÃO trata de relações familiares e da sua importância na ossatura da existência. Berlusconi quase parece um tema lateral, não fossem as perguntas – poucas e concisas, como a insistente inquirição “de onde veio todo aquele dinheiro?”, no princípio dos anos 70, quando o futuro magnata dos media emergiu como empresário de construção civil – não fossem as imagens de televisão com Berlusconi insultando os parlamentares europeus. Dele, Moretti não ri. Há muito humor no filme, mas nenhum é dirigido contra o homem que se meteu na política para evitar ir parar à prisão. Moretti ri-se do cinema italiano, dos seus divos, das suas combinações, dos críticos (desta feita é um crítico de gastronomia que paga as favas), das fragilidades sentimentais, dos preconceitos sexuais – ri-se até de si mesmo, quando surge a fazer de Moretti, investindo na escrita de uma comédia e recusando entrar no filme sobre Berlusconi, porque tudo o que se podia dizer sobre o homem já fora dito.

Quando fala de Berlusconi, O CAIMÃO é de uma seriedade absoluta, sinistra. E quando, finalmente, o filme se faz, descobrimos que Moretti aceitou, afinal, o papel – e é ele mesmo que surge a dizer, em tribunal, as palavras mais hediondas da fita, como uma pulsação maléfica que explode, lá onde quedaram todas as anedotas, todo o ridículo. Do alto do poder do Estado, um homem atreve-se a ser o calculista corruptor dos alicerces de toda uma sociedade."

Jorge Leitão Ramos, Expresso


Nas duas últimas quartas-feiras de Maio serão exibidos:
- Sinal de Alerta de Andrea Arnold (20 Maio, 21h30)
- A Filha do Juiz de William Karel (27 Maio, 21h30)

Bilhetes: 4 euros (sócios da AJP e ASJP: 3,50 euros).

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