domingo, 29 de janeiro de 2006

Tribunal decide se Jesus é uma figura histórica

"Juiz precisa de tempo para decidir se Jesus existiu

Tribunal italiano chamado a decidir caso colocado por um ateu. Um juiz do tribunal de Viterbo (centro de Itália, 80 quilómetros a norte de Roma) decidiu que terá que ter tempo para reflectir se Jesus existiu ou não. A questão surgiu depois de um antigo seminarista, depois convertido em ateu, ter colocado um padre em tribunal, acusando-o de "abusar da credulidade popular" por ter apresentado Jesus como uma figura histórica. A cidade onde morreu o único Papa português, João XXI, e na qual começaram os conclaves para a eleição do Papa, viu nascer este caso já em 2002. Para ontem estava marcada a sessão preliminar com as duas partes. Depois da audiência, breve e fechada à imprensa, o juiz Gaetano Mautone decidiu adiar o caso, informando as duas partes de que lhes comunicaria a data da próxima sessão. Luigi Cascioli, 72 anos, o acusador, compareceu em tribunal acompanhado do seu advogado, Mauro Fonzo, enquanto o acusado, o padre Enrico Righi, 75 anos, pároco de S. Boaventura de Bagnoregno, se fez representar pelo seu advogado, Severo Bruno. Este declarou que o padre está triste com o caso, porque ele e Cascioli eram amigos. Cascioli, agrónomo de profissão, afirma-se ateu e declarou-se "muito contente" pelo facto de o processo seguir em frente. Conta a AFP que o acusador tem utilizado este processo para divulgar as suas teses. Ontem, nomeadamente, beneficiando da presença de um numeroso grupo de jornalistas, Cascioli aproveitou para publicitar o livro A Fábula do Cristo, que vende por 14,50 euros e no qual refuta a existência histórica de Jesus. Perante os jornalistas, Cascioli afirmou que "Cristo não existiu, mas é uma personagem inventada pela Igreja". Ao mesmo tempo, acusou o padre Righi de ter "abusado da credulidade popular", apresentando Jesus como uma figura histórica.
Abusar da credulidade
O padre Righi, citado há dias pelo El Mundo, afirmou que havia testemunhos mais do que suficientes sobre a existência histórica de Jesus, tanto em textos religiosos como profanos. "Se Cascioli não vê o sol no céu ao meio-dia, não pode acusar-me por eu o ver e ele não", dizia o padre. Cascioli recorre ao artigo 661 do Código Penal italiano, que sanciona as pessoas que "abusem da credulidade popular" através de imposturas. "Os ministros do culto da Igreja Católica, como Righi, professam falsidades históricas, apresentando como verdades e factos realmente acontecidos factos inventados pelas necessidades da doutrina religiosa", acrescenta. Cascioli diz que os primeiros cristãos confundiram Jesus com um João de Gamala, um judeu que combateu a ocupação romana da Palestina no século I. Entre os testemunhos históricos da existência de Jesus está o do historiador Flávio Josefo, do século I, que, na obra Antiguidades Judaicas, falou de Jesus. Também vários outros estudiosos judaicos falam de Jesus como um jovem rabino (um mestre espiritual) que teria sido importante naquela época, a par de outros. Em Viterbo, que era então a cidade onde residiam os papas, morreu em 1277 João XXI, o português Pedro Hispano, oito meses depois de ter sido eleito para o lugar, na sequência do desabamento de um tecto. Seis anos antes, na mesma cidade, tinha-se dado início aos conclaves: os cardeais foram fechados pela população e ameaçados de morrer à fome - estavam há dois anos e nove meses sem chegar a acordo sobre quem sucederia ao Papa Clemente IV, mas depois rapidamente foi eleito Gregório X."
Fonte: Público, 28/01/06

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